domingo, 15 de abril de 2007

Tento enumerar as dores, mas me faltam os dedos. No espelho tento me ver naqueles traços redondos. A moldura de madeira, o detalhe dourado, o colar dependurado e rosa. Sou os objetos e as cores. Não a pele, a boca, os olhos e a ausência.
Dentro de mim não há mais nada. Sinto o oco. Ouço o eco. Não sei em que parte do caminho tudo sumiu.
Minhas verdades foram corrompidas por outras verdades que soavam erroneamente muito mais certas.
A voz agora sai fraca e não sei o que fazer dela.
Silêncio.
Enxergo-me eternamente à espera. Tantas coisas acontecem, tantas pessoas passam por mim. Talvez aquilo a que minha antiga razão se predispôs a esperar já tenha passado. Teria que continuar esperando porque depois de tudo e nada isso é a única coisa que sei fazer.
Vida e morte se juntaram e fizeram-se apenas uma. Vida e morte se mostram como a ausência. Estou morta na vida. Estarei viva na morte.
Viva ou morta. Estarei sempre sozinha com cartas à ninguém e palavras presas entre o fim da garganta e o começo da língua.

Um comentário:

World Up disse...

enumerar?

um...
dois...
três...

As vezes faltam palavras, as vezes faltam números. As vezes não falta nada, mas a sensação de impotência se encarrega de arrumar algo para faltar.
Não sei, ninguém sabe.

beijos