domingo, 14 de outubro de 2007

Estou começando tudo de novo. Do zero.

Novo endereço: www.natalia-pinheiro.blogspot.com

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Sobre o cansaço.

As luzes da rua dançam aquela música que embala o carros que vão- ou voltam? Todo o meu corpo grita de cansaço. As palavras tão repetitivas, a vida: repetição.
Por favor, não me faça falar sobre esse peso que carrego. Segura, assim, minha mão e diz que as coisas vão voltar a ser como eram. Prometo que não vou pensar que é mentira e nem mesmo vou olhar para os seus olhos.
Você não tem olhos, não tem face, você é ninguém. Esse conforto e esse carinho que eu procuro nos braços deles e não acho; mas só a ínfima esperança de que talvez seja dessa vez me faz perder um pouco da tristeza. Vês? Meus olhos por alguns segundos param de salgar.
A sujeira que carrego comigo depois e para sempre é só um pouco mais de peso. O que um pouco mais de peso quando carrego o eco de todos os ‘adeus’ e a visão de todos indo embora? É nada.
Se é doença, se é loucura, se é qualquer outra coisa. Pode ser tudo, tudo, tudo. Ou nada. É, talvez seja nada.
A dança continua mesmo na pausa entre uma música e outra. Isso me deixa louca. Toda essa felicidade intocável, surreal.

Me abraça, assim, e eu juro que não vou pensar que você nem sabe o meu nome.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Canção de amor da jovem louca- Sylvia Plath.

Fecho os olhos e o mundo inteiro tomba morto.
Abro as pálpebras e tudo de novo renasce.
(Acho que inventei você na minha mente.)

As estrelas saem valsando em azuis e vermelhos.
E a arbitrária escuridão chega a galope.
Fecho os olhos e o mundo inteiro tomba morto.

Sonhei que você me enfeitiçou até a cama
E cantou para mim em desvario.
Me beijou em total loucura.
(Acho que inventei você na minha mente.)

Deus desaba do céu.
O fogo do inferno abranda.
Vão-se os serafins e os homens de Satã.
Fecho os olhos e o mundo inteiro tomba morto.

Imaginei que você voltaria como prometeu.
Mas envelheço e esqueço seu nome.
(Acho que inventei você na minha mente.)

Eu deveria ter amado um falcão, não a você.
Pelo menos retornam barulhentos quando vem a primavera.
Fecho os olhos e o mundo inteiro tomba morto.

(Acho que inventei você na minha da mente.)

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Lá fora.

Olhava os carros passando pelo ônibus. Sentada, apertada, com livros no colo e um casal se espremendo ao meu lado: ele no colo dela.
Bem ao longe, algumas cadeiras a frente, uma menina chorava: tinha sido assaltada, pelo o que eu ouvi.
A vida estava acontecendo. Talvez vinte e algumas pessoas naquele ônibus lotado, pessoas vivendo: tão longe de mim.
A vida estava acontecendo. Mas aqui dentro, onde eu deveria acontecer, nada se mexe.
O tempo todo é como tempo nenhum preso no segundo seguinte à um terrível desastre.
Faço as minhas coisas, mas nem sei direito se fiz o que fiz ou se pensei. Cigarro aceso ao contrário, xícara de café na geladeira e água fervendo pela minha garganta.
Quando essa coisa tão enorme e sem tamanho vem ela leva tudo. Carrega cada pequeno pedaço de qualquer coisa que eu estava juntando há tanto tempo.
Eu volto, no segundo de tempo nenhum, ao começo de nada.
Mas agora, tanta coisa mudou, e eu já nem sei o que devo começar.

Não!

E as palavras se repetiam como em um disco riscado, na minha cabeça, a fisgada da dor: a realidade.
Quero que passe. Pare com essa dor tão incomum. Essa solidão tão desigual. Em um segundo, somente um, tudo volte ao normal e eu não precise mais lutar com pensamentos de dor dor dor doooooooooooor.
Porque que é assim. Afirmação. Para que perguntar? As coisas, tudo na vida, não tem motivo, é só para sofrer. É só um teste, só para ver. Se eu sou forte. Se eu sou capaz.
Não, não sou. PELO AMOR DE DEUS! Não sou forte, não sou capaz. Jogo-me aos pés do meu carrasco e imploro para que agora tudo isso pare. Confessei que não quero mais.
Só quero deitar e ficar daquele jeito que tanto almejo: imóvel, coberta por ilusões eternas e dormindo em um sonho tão bom, tão bom.
E nunca dispertar.

domingo, 12 de agosto de 2007

Dia dos pais.

Escondida do frio que bateu a porta: e eu abri.
Estava vendo televisão, apenas olhando para a tela e pensando em coisas à toa: sexo, amor, sexo e não amor, raiva, raiva.
Foi uma propaganda que me tirou daquele estado de estagnação. Dia dos pais. Dia dos pais. Não tinha pensando nisso ao levantar, ao almoçar, ao sentar no sofá para me entregar ao ócio. As piores dores insistem em sumir. Eu esqueço que estou sozinha para o resto da minha vida. Então (explosão), eu lembro.
Uma explosão de Macabéa ou de Lispector (?), mas também uma explosão somente minha.
Algo se quebra, mas é impossível se notar. Talvez todos me saibam tão quebrada que todos os pedaços já formam uma massa única e não pode-se enxergar cada uma como algo singular.
Fico assim, entende? Parada, calada- com medo de que tudo desmorone.
Mas já não desmoronou? Agora não é só chão chão chão?
Agora é depois do chão, ainda mais embaixo. Lá onde ninguém se conhece e cada dor é única e maior do que as outras.
Eu grito, não pelo direito ao grito; mas pela esperança de que meu grito me acorde e eu possa continuar.
Eu só quero que.

terça-feira, 31 de julho de 2007

13.

Acendo um cigarro e paro.
Fecho os olhos e paro.
Parada.
Parada.
Quase inerte.

Aquele desenho,
aquele olho chorando.
Não sei,
deve ter sido um sinal.

A lágrima única:
a perda do único.

Essa dor que quase não dói.
Essa saudade que não acredito,
eu nunca acredito,
que vai viver em mim.

Sempre a noite,
quando paro,
sinto suas mãos encostando em meu braço.
E adormeço,
feliz pela fantasia.
E acordo,
triste por ser isso tudo que me restou:
uma fantasia.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Nada.

É tanta coisa, tanta coisa, tanta coisa.
Fico aqui deitada entre cobertas que não tem a capacidade de cobrir o vazio imenso que é vazio só porque um dia decidi o chamar assim: ele é tudo, composto de tudo, tudo tudo tudo.
Meus dedos exitam entre as letras, talvez não saiba ao certo o que quero escrever. Talvez saiba demais e tanto que o conhecimento me fugiu.
Abandono, abandono, abandono.
Cada dia uma palavra. Sempre oito letras escondendo algo maior que só Ele pode ver.
Só Ele.
Ele.
Sabe?
Ele.

domingo, 22 de julho de 2007

Suspirar.

Não sou eu que tenho que achar algo.
Minha vida está perdida há tanto tempo, e há tanto tempo eu tento achá-la.
Hoje, ou talvez há um mês atrás, desisti de encontrar entre os escombros de mim algo concreto.
Sou feita de merda. Quero te mostrar o caminho bom. Sei aonde está esse caminho, sei também que para mim ele está perdido.
Eu desperdicei a minha vida. Entre tanta droga, tanto sangue, tanto sexo. Tudo isso foi-me tirando pedaços de mim. E eu, naquela época, tinha a certeza imbecil de que poderia viver sem esses pedaços. Descobri que não. Choro em cima do vazio que minhas esperanças, meu amor e minha decência deixaram dentro de mim.
Tenho que acordar a cada dia e ver que me perdi. Cada dia fica mais difícil, cada dia minha cama torna-se para mim um túmulo e o ar gelado que entra pela janela torna-se um ar fúnebre.
Sentia-me tão bem quando estava trancada em clínicas e sanatórios.
Agora estou presa ao que restou de mim, porém não me sinto bem. Quero poder me entregar, mas não tenho nada.
Quero poder produzir, mas tudo que escrevo é um repetição dos mesmos dias estragados.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

O abismo: entre nós.

A amargura doce de seu quase-sorriso abalava a estrutura tão bem forma que, alheio a outras vontades, Narciso formara para si. Esperava de Estela tudo- tudo menos aquele sorriso amargurado de amor e adocicado de sinceridade.
Fora fácil para Narciso, até então, inventar aquela cena e fazer dela a perfeição, a apoteose de todo aquele sentimento embevecido em paixão ao amor.
Estela tinha os pés pregados ao chão com pregos enferrujados pelo tempo que ainda não havia passado. Não se dava ao luxo de sonhar com qualquer outra realidade se não a que estava vivendo: Narciso.
Impossível seria contar sobre os minutos que se fizeram horas em que os dois amantes apreciavam atônitos sua grande paixão virando água suja a correr pelo meio-feio direto ao esgoto da cidade.
O dia não se fez noite para mais ninguém além de Narciso e Estela. Os olhos que faiscavam pela escuridão diurna e davam aos dois a claridade suficiente para caminhar, de repente se apagaram.
A escuridão que era solidão, ausência e desamor. Essa escuridão tão única os engolfou enquanto tudo se fazia lixo.
Perderam-se um do outro, desencontraram-se. O abismo que se abriu no meio daquela cama era o mesmo, mas a escuridão da queda é única para cada um dos amantes.Não se pode dizer se vivos ou mortos.

A única imagem real é a pequenez do abismo contrastando com a magnitude da perda.

domingo, 24 de junho de 2007

De novo, e de novo: nada novo.

Odeio minha solidão. Pego negativos de filmes- de pessoas- e tento ver através deles ver o eclipse da dor e da ausência. Essa luz tão forte que me cega, me atormenta, me faz fazer sem sentir e sentir tarde demais.
Não tem nenhuma relação com as pessoas em si. É um dos meus pedaços, talvez o único que continua inteiro depois de tudo o que já passou.
Se existem pessoas tão sozinhas quanto eu, se- na verdade – todos são assim; isso nada me importa.
Quero parar de alimentar essa luz, quero poder olhar para os olhos - mesmo que sejam os meus – sem ter minha atenção presa por um luminosidade absurda.
Minha força está na dor. E, mesmo assim, será que é força? Talvez seja um pouco de frieza. Eu sinto a dor mas, como todo o resto, sei que um dia vai passar. São dois dias de uma fisgada, outros dois de um corte, e mais outros dois que uma trombada com um desconhecido qualquer.
Não é apenas repetição, é a realidade que acreditei tanto ser minha que, lá no fundo, eu estou fazendo-a existir
.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Passo a passo.

Encontrarei, no fim dessa rua, algo para mim? Ao virar aquela esquina, aquela lá- bem longe, deparei-me com meu amor perdido? Acharei um frasco pequeno de uma cola da alma, e com ela conseguirei colar todos os meus pedaços- e tantos outros?
Ando só para andar. Os pés: direito, esquerdo, direito, esquerdo- podiam ser o início de um filme. Mas não são.
Ficar parada; assim, sentada, faz o monstro crescer. Quando ando meu cansaço e a falta de fôlego incomodam à mim e ao monstro- ou os dois sou eu?
Minha vida parada, mas estou andando. Ta tudo bem, ta tudo bem- repito e repito e repito.
Nada está bem e nunca estará, mas isso é tão maior do que eu. Preciso mentir baixinho para só eu poder ouvir. Os outros? Bem, os outros também estão mentindo. Alguns só para si, outro também para os outros e ainda outros que só encaram o mundo com fardo de mentiras. Serão esses últimos mais sinceros do que eu? Devem ser.
O mundo é uma mentira, e assim sendo, eu sou apenas uma metáfora que corrói de verdades uma inverdade absoluta.

Não quero falar sobre amor.

Sinto minha perna esquerda molhada. Com minha toalha tento secar o que está fazendo-me tremer de frio. Não há nada. Insisto em secar até que o atrito da toalha com a minha perna me aqueça e faça a temperatura subir.
O resto de meu corpo está normal e quente, embaixo das cobertas. Mas minha perna esquerda continua molhada, como se estivesse dentro de um balde com gelo. Passo minha mão por cima de minha perna e: nada. Não sei que está acontecendo.
Pego meu isqueiro e aproximo a chama de minha pele. Não sinto o calor, o frio aumenta e o gelo parece se alimentar do não-calor.
Um cheiro forte de queimado me chega de repente. Estou colocando fogo na minha coberta de lã vermelha.
Pego o copo d’água que está na mesa ao lado de minha cama e jogo em cima do fogo que começa. O fogo se apaga, mas a água molha minha perna direita.
Agora as duas estão congeladas e começo a senti-las doer.
O frio começa a agasalhar meu corpo todo, agora estou descoberta e nua na cama- encolhida.
Algo me impede de levantar e colocar roupas e pegar mais cobertas. Fico deitada com os dentes: tá tá tá tá.
Quero gritar, sair correndo, acender as luzes da casa, me esconder dentro do forno aceso. Mas algo me impede de fazer qualquer movimento.
Sinto-me cansada. A exaustão do desespero me engolfa e de repente durmo, me abraçando.
Mas sei, no momento antes do sono, que nunca mais sentirei minhas pernas do mesmo jeito. Algo mudou, de dentro para fora.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Sobre a morte, que é vida.

É só olhar para o meu passado, mesmo que só de relance, e você pode enxergar que tudo foi sempre uma repetição.
Todas as dores foram apenas uma dor: a vontade de ter dor.
O vazio do qual eu tanto falo, achei que pudesse preenchê-lo com ela. Não pude, e sofri.
Hoje me deparo com uma dor concreta, real, absurda e triste. Hoje vejo que apesar da dor e do vazio estarem lado a lado, eles não vão se juntar.
Eu queria poder resumir tudo a uma dor que conheço e sofrer - do jeito que sei sofrer. Estou vendo, nesse momento, o cadáver. Não só de meu pai, mas também da outra eu que fui ou representei ser esse tempo todo.
Tudo acabou, mas posso ver um começo gerado pelo meu primeiro fim.
Preciso encarar os fatos e não tentar achar desculpas, e essa - sim!- é a coisa mais difícil que já tive que fazer na vida.


-Tá tudo uma merda e sorrir dói.
-Não sorria.
-Eu não estou sorrindo.
-Claro que está.
-Não estou, é você que já não me enxerga como antes.

terça-feira, 19 de junho de 2007

4.

Houve então algo real no meio de tantas ilusões? Sim, houve o sofrimento.
Houve o sofrimento que hoje não sei se sinto ou se sou. Cada palavra dita na hora errada, cada gesto equivocado, cada afirmação mentirosa: tudo isso eu sei antes de fazer. Sei que vai acabar mal, sei que o mundo vai desabar.
Quero uma desculpa para chorar à noite. Quero poder chorar sem me sentir idiota por estar chorando. Minhas razões são grandes, sim, mas só o são para mim, afinal: elas são minhas.
Sou eu quem está sentindo a dor da perda, da rejeição e da saudade- tudo junto. Sou eu que estou quebrada, sangrando, em um canto, encolhida.
Não é egocentrismo não. E se for, qual o problema? Eu preciso pensar em mim antes do resto, porque são os meus olhos que tenho que encarar todos os dias.
Eu falo e falo e falo- tanto! Mas não engoli as duas verdades que foram jogadas em mim: amarrada em uma linha de trem.
Não quero saber do meu pai morto. Não quero entender que não vou mais ouvir sua voz. Não quero sentir a dor concreta da perda real. Não aconteceu, não aconteceu, não aconteceu. Vou repetir baixinho todas as noites até que algo maior aconteça, ou até que minha garganta sucumba ao tamanho da ausência e deixe minha perda ir para todos os cantos do meu corpo.
Não quero saber que nunca terei companhia na dor. Vou continuar querendo e querendo e querendo: uma mão estendida, um colo disponível, um conforto de amor.
É como o vômito que chega ao fim da garganta e depois volta. É como essa ânsia, mas ao contrário: de fora para dentro.
Às vezes quase sinto a dor que sei vou ter que sentir. Mas logo depois a cuspo de novo, não consigo engolir tantas incertezas sobre a vida e a morte.
Não, não quero saber se outras pessoas já passaram por isso. Eu estou passando por isso agora. Eu perdi meu pai: meu pai que era único e nunca mais vai voltar.
A solidão me engolfa e eu fico sempre presa ao instante em que estamos caindo. Mas o desespero não é do me machucar, sei que vou; o desespero é o de ver os dias passando e me distanciando da memória que não quero nunca esquecer.
Tenho medo de esquecer seu rosto, sua voz, seu abraço. Tenho medo de nunca cair e ficar para sempre com o rosto estampado de incertezas.
Nada pode expressar o tamanho da minha dor. Nem as linhas mais tristes, nem os cortes mais profundos. Ninguém nunca vai entender sem sentir, e ninguém nunca vai sentir como eu.
Sei que o amor que sinto por ele nunca mais vai parar de exalar de todos os meus poros, mas não vai ter nada de volta, entende? Ninguém vai estar atrás da porta, na outra linha, nos outros braços apertando sua filha: eu.
Quero tornar real. Quero um enterro, uma cerimônia, uma tatuagem: uma imagem concreta da dor.
Aquele que sempre esteve todo ouvidos para mim não está mais lá. Não poderei nunca mais ligar para seu número- o único que sei décor- e ouvir sua voz me confortando.
Não tem mais ninguém. Não tem mais ninguém. Nunca mais vai ter alguém.
A solidão é a maior do mundo. Se sempre estive sozinha, também sempre tive meu pai ali- pronto para me atender. Agora não tem mais ninguém. Não tem mais ninguém. Não tem mais ninguém.
Nem me importo mais com repetições, tudo sempre foi uma repetição da dor, da dor, da dor.
Mas a dor nunca foi tão real, tão brutal, tão crua.
Ter a certeza de que isso nunca vai passar não me atormenta. Atormenta-me o: vai diminuir.
Não quero que diminua. Não quero trair suas lembranças e não chorar ao lembrar de seu abraço confortador ou olhar para as fotografias do passado.
O que vai acontecer daqui para frente? Não sei.
Não sei se vou aprender a andar com o peso da saudade. Sinto que até o meu jeito de andar mudou: eu me arrasto.
E minhas palavras, são tão pequenas. Sinto-me culpada por não conseguir expressar direito o tamanho da importância que ele teve para mim, e sempre vai ter.Vou carregar-te comigo para sempre, pai. Para sempre: mesmo sem saber o que isso significa.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

3.

Eu quero engolir o nada. Esse vazio do tamanho do mundo me preenche e me esvazia. Quero poder tocar em todos os rostos e sentir em algum pedaço de pele o tato que sinto ao acariciar silenciosa o meu próprio.
Uma de minhas tristezas mais profunda e imensa é essa: nunca ninguém acariciou o meu rosto.
Penso nessa tristeza sem tamanho às vezes com indiferença, às vezes com lágrimas nos olhos, às vezes com raiva e às vezes – só às vezes - nem penso.
Toda a minha vida está atrás de minha nuca e nunca posso olhá-la direito. Não sei se de fato é tudo uma mentira, mas sinto que sim. Sinto que nunca de verdade vivi, somente passei pelos dias, semanas, meses e anos como alguém passa sem olhar para um mendigo que dorme em um banco de praça.
Sinto todo o meu passado tão insignificante diante essa dor que me engolfa e me mantém acordada.
Quero contar sobre minha vida, mas não há nada.
A dor, toda a dor que já senti, é apenas dor e dela nada pode ser falado além de: eu sofri.
Minhas palavras saem sempre do mesmo modo: garganta, língua e boca. Sei que algumas vezes elas passam pela minha alma e são essas as minhas verdades secretas, que mesmo faladas não são importantes a ninguém, só eu entendo delas.
A ilusão que carreguei tanto tempo foi a vontade impossível de ter companhia na dor. Percebi em um momento que de tão importante passou sem nada de extraordinário, que nunca terei companhia.
A dor que sinto está enjaulada comigo em uma sala fechada e distante. Ela me possui de tal modo que nada, nem ninguém, consegue enxergar meu rosto aflito, ouvir meus gritos mudos ou pegar minha mão sempre estendida.
Não sei se depois de parar de jorrar palavras nessa tela branca algo diminuirá dentro de mim. Eu, não sei de nada. E nem minha vontade de certezas pode ser considerada, porque, na verdade, eu também odeio certezas.

domingo, 17 de junho de 2007

2.

Estou caindo em um abismo interminável.
Mãos escorregadias tentam me puxar para cima.
Suas mãos, meu pai, estão presas.
Em um necrotério distante.

A dor destrói tudo como uma bomba jogada sobre os álbuns de fotografia.
Não há mais nada além da ausência daquele que penso não saber.
Não saber do meu amor e da minha admiração:
que vão perpetuar até o espaço e continuar até o infinito.

Meu porto seguro.
Meu pai.
Longe e perto.
Preso e liberto.

As lágrimas virarão flores?
A dor nunca cessará.
A falta vai me comer por dentro.
E eu vou gritar como uma criança de colo:
-Papai!


***

Eu quero dormir por uma semana. Deixar todas as tristezas e babaquices em um plano inferior, evoluir só em sonho.
A vida passa tão rápido que uma vertigem se apodera de mim e tudo gira e eu caio e nada mais faz sentido.
Na noite passada eu não vomitei só a vodka. Vomitei um pouco da minha dor, da minha solidão e da minha vontade de ser possuída por algo maior.
E é sempre assim. Quando o vazio fica presente demais eu anseio por ser possuída por algo maior. Mas, maior do que o quê? Do que eu e minha existência pacata e sem sentido.
Quero a sentir a vida, só para ver como é. Sentir essas coisas que me dizem tão boas e eu só faço cara de quem entende. Mas eu não entendo nada, nunca.
Meu sexo é seco e sem porquês. Meu amor só é amor porque contagia todos e eu o faço existir, sempre pela minha vontade. Minha indiferença é mentira e minhas motivações são inventadas.
Estou sozinha e as amarras só existem entre mim e a tal solidão.
Solidão: essa é a minha palavra.
Olho agora pela janela e percebo que já é noite. Tudo é tão brusco que nem vejo o meio termo.
E meus textos? Meus textos são impregnados da ausência de mim.
Tenho nada e me agarro a isso. Talvez seja isso que me distancie dos outros, estou agarrando com toda a minha força o nada, o vazio, o vento e o silêncio.
Não perdi minha esperança. Ela ainda existe, em algum lugar. Mas está sendo massacrada pela realidade brutal da morte, do fracasso e da dor.
Tenho dentro de mim pedaços iguais aos de todos. Mas o pedaço que me falta não é o mesmo que falta aos outros, e é isso que me destrói.
Hoje eu não quero morrer. Hoje eu quero dormir até me tornar inteira sonhos e me distanciar tanto da realidade que toda a dor seja apenas um reflexo que mal conseguirei enxergar.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Luto.

A vida é um soco no estômago.
Às quatro e cinqüenta da madrugada do dia 6 de junho o corpo do meu pai foi achado sem vida no quatro de um hotel em Genebra.
Estou caindo um abismo de solidão e dor, dor, dor.
Sou o negativo de uma pessoa. Não sei mais se existo.
A maior dor mundo está doendo em mim.
Quero ouvir sua voz. Quero olhar seus olhos verdes, tão sofridos. Quero voltar a existir em uma existência plena, e não essa miserável que me foi dada.
Agora não tem mais ninguém do outro lado da linha. Agora não tem mais notícias banais. Agora não tem mais comentários sobre livros que comprei.
Agora que minha vida parou, não tem mais nada.
Eu quero dormir, mas tenho medo do segundo seguinte ao de acordar, aquele em que vou lembrar o que aconteceu.
Eu quero gritar, mas sei que não tenho forças nem para andar mais do que alguns passos trêmulos.
Eu quero meu pai. Eu quero meu porto seguro. Eu quero aquele que sempre me disse que escrever é o melhor dos remédios.
Eu quero um abraço, mas os braços daquele que mais amo estão presos em um necrotério.
Não quero mais imaginar como foi sua morte, mas a cena aterroriza todos os meus segundos desde que soube: sozinho, com dor, morrendo, sozinho.
Crio fantasias de que não era ele. Preciso ver seu corpo, tornar real.
Hoje, perdi todo o pouco que tinha, estou beirando o quase-existir.
Quero o meu pai, só isso.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Novos planos.

Estou tentando escrever um romance.

Um trecho:
"Tudo silenciou. Tic-tac, shhhhhh, dlin-dlon, aaaaaaaahhhh, toc-toc, grrrr: nada.
A realidade encolheu, tornou-se portátil. Levava no bolso esquerdo de minha camisa tudo o que precisava carregar para continuar viva. A essência de Lívia. A presença dela em minha vida todos os dias. Suas palavras banais. Suas mãos delicadas. Seu rosto único.
Quando encontrei Lívia coloquei todos os meus desejos dentro dela: ela que existia dentro de mim."

sábado, 19 de maio de 2007

7.

Como vão as coisas,
aí,
do outro lado do país?

O sol aí,
é o mesmo?

A chuva aí,
faz o mesmo barulho?

As pessoas aí,
são ocas também?

Longe,
muito longe.

Palavras: minhas pontes,

daqui,
para qualquer outro;
lugar.

Às vezes penso,
que só eu sei o que é isso:
viver em uma folha de papel.