domingo, 17 de junho de 2007

2.

Estou caindo em um abismo interminável.
Mãos escorregadias tentam me puxar para cima.
Suas mãos, meu pai, estão presas.
Em um necrotério distante.

A dor destrói tudo como uma bomba jogada sobre os álbuns de fotografia.
Não há mais nada além da ausência daquele que penso não saber.
Não saber do meu amor e da minha admiração:
que vão perpetuar até o espaço e continuar até o infinito.

Meu porto seguro.
Meu pai.
Longe e perto.
Preso e liberto.

As lágrimas virarão flores?
A dor nunca cessará.
A falta vai me comer por dentro.
E eu vou gritar como uma criança de colo:
-Papai!


***

Eu quero dormir por uma semana. Deixar todas as tristezas e babaquices em um plano inferior, evoluir só em sonho.
A vida passa tão rápido que uma vertigem se apodera de mim e tudo gira e eu caio e nada mais faz sentido.
Na noite passada eu não vomitei só a vodka. Vomitei um pouco da minha dor, da minha solidão e da minha vontade de ser possuída por algo maior.
E é sempre assim. Quando o vazio fica presente demais eu anseio por ser possuída por algo maior. Mas, maior do que o quê? Do que eu e minha existência pacata e sem sentido.
Quero a sentir a vida, só para ver como é. Sentir essas coisas que me dizem tão boas e eu só faço cara de quem entende. Mas eu não entendo nada, nunca.
Meu sexo é seco e sem porquês. Meu amor só é amor porque contagia todos e eu o faço existir, sempre pela minha vontade. Minha indiferença é mentira e minhas motivações são inventadas.
Estou sozinha e as amarras só existem entre mim e a tal solidão.
Solidão: essa é a minha palavra.
Olho agora pela janela e percebo que já é noite. Tudo é tão brusco que nem vejo o meio termo.
E meus textos? Meus textos são impregnados da ausência de mim.
Tenho nada e me agarro a isso. Talvez seja isso que me distancie dos outros, estou agarrando com toda a minha força o nada, o vazio, o vento e o silêncio.
Não perdi minha esperança. Ela ainda existe, em algum lugar. Mas está sendo massacrada pela realidade brutal da morte, do fracasso e da dor.
Tenho dentro de mim pedaços iguais aos de todos. Mas o pedaço que me falta não é o mesmo que falta aos outros, e é isso que me destrói.
Hoje eu não quero morrer. Hoje eu quero dormir até me tornar inteira sonhos e me distanciar tanto da realidade que toda a dor seja apenas um reflexo que mal conseguirei enxergar.

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