segunda-feira, 18 de junho de 2007

3.

Eu quero engolir o nada. Esse vazio do tamanho do mundo me preenche e me esvazia. Quero poder tocar em todos os rostos e sentir em algum pedaço de pele o tato que sinto ao acariciar silenciosa o meu próprio.
Uma de minhas tristezas mais profunda e imensa é essa: nunca ninguém acariciou o meu rosto.
Penso nessa tristeza sem tamanho às vezes com indiferença, às vezes com lágrimas nos olhos, às vezes com raiva e às vezes – só às vezes - nem penso.
Toda a minha vida está atrás de minha nuca e nunca posso olhá-la direito. Não sei se de fato é tudo uma mentira, mas sinto que sim. Sinto que nunca de verdade vivi, somente passei pelos dias, semanas, meses e anos como alguém passa sem olhar para um mendigo que dorme em um banco de praça.
Sinto todo o meu passado tão insignificante diante essa dor que me engolfa e me mantém acordada.
Quero contar sobre minha vida, mas não há nada.
A dor, toda a dor que já senti, é apenas dor e dela nada pode ser falado além de: eu sofri.
Minhas palavras saem sempre do mesmo modo: garganta, língua e boca. Sei que algumas vezes elas passam pela minha alma e são essas as minhas verdades secretas, que mesmo faladas não são importantes a ninguém, só eu entendo delas.
A ilusão que carreguei tanto tempo foi a vontade impossível de ter companhia na dor. Percebi em um momento que de tão importante passou sem nada de extraordinário, que nunca terei companhia.
A dor que sinto está enjaulada comigo em uma sala fechada e distante. Ela me possui de tal modo que nada, nem ninguém, consegue enxergar meu rosto aflito, ouvir meus gritos mudos ou pegar minha mão sempre estendida.
Não sei se depois de parar de jorrar palavras nessa tela branca algo diminuirá dentro de mim. Eu, não sei de nada. E nem minha vontade de certezas pode ser considerada, porque, na verdade, eu também odeio certezas.

Nenhum comentário: