quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Lá fora.

Olhava os carros passando pelo ônibus. Sentada, apertada, com livros no colo e um casal se espremendo ao meu lado: ele no colo dela.
Bem ao longe, algumas cadeiras a frente, uma menina chorava: tinha sido assaltada, pelo o que eu ouvi.
A vida estava acontecendo. Talvez vinte e algumas pessoas naquele ônibus lotado, pessoas vivendo: tão longe de mim.
A vida estava acontecendo. Mas aqui dentro, onde eu deveria acontecer, nada se mexe.
O tempo todo é como tempo nenhum preso no segundo seguinte à um terrível desastre.
Faço as minhas coisas, mas nem sei direito se fiz o que fiz ou se pensei. Cigarro aceso ao contrário, xícara de café na geladeira e água fervendo pela minha garganta.
Quando essa coisa tão enorme e sem tamanho vem ela leva tudo. Carrega cada pequeno pedaço de qualquer coisa que eu estava juntando há tanto tempo.
Eu volto, no segundo de tempo nenhum, ao começo de nada.
Mas agora, tanta coisa mudou, e eu já nem sei o que devo começar.

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